Pular para o conteúdo

ATF Minas

Início » A expectativa do outro

A expectativa do outro

Em todo relacionamento humano, você deve estar atento ao limite de suas expectativas, ou seja, deve conter suas fantasias e projeções para não sair da realidade, para ser objetivo, tanto quanto possível, para exigir, dos homens, comportamentos de deuses. É preciso ser cauteloso, prudente, sem ter preconceitos, nem raciocínios precipitados .Seu relacionamento vai aumentando na medida do feed-back que você recebe do outro, ou na medida de seu desprendimento e amor ao próximo. Você vai se preparando para caminhar, passo a passo, com o seu semelhante, num relacionamento dinâmico circular e progressivo, em grandes decepções .

É conveniente, no entanto, que não se esqueça de que, assim como você constrói expectativas sobre o outro nem sempre verdadeiras, apesar de todo o seu cuidado e experiência, assim também ele as constrói sobre você, muitas vezes totalmente falsas, irreais as quais vão causar nele profundas decepções. A pessoa que relaciona ou convive com você pode esperar, enganosamente, qualidades que você não possui, pode exigir comportamentos que você não tem capacidade de emitir. Ela, que faz tais fantasias, ficará decepcionada quando defrontar-se com aquilo que você realmente é.

Por isso mesmo, além de estarmos atentos para não dar rédeas soltas às nossas fantasias e expectativas, temos que prestar atenção, desde o início do relacionamento, às fantasias dos outros, para ajudá-los a conhecer-nos melhor, a corrigir seus erros de percepção, mesmo pequenos, a nosso respeito é necessário deixar de lado nossa vaidade e refutar elogios, mostrar aos outros que não temos tais atributos que eles estão dizendo ou pensando que temos. Não devemos usar máscaras, tentar apresentar aquilo que não somos, com medo de não sermos aceitos ou de sermos menosprezados.

É importante que tenhamos posição definida, nem que seja provisória, sobre qualquer assunto, que tenhamos medo de ser o que somos, de confessar o que pensamos, o que acreditamos e o que praticamos. Não podemos ser omissos, nem pusilânimes, mas também não devemos ser presunçosos ou pedantes. Não devemos disputar com o outro para provar que somos melhores, ou que nossa filosofia de vida é mais sublime mas também não devemos ter medo de dizer, a todos, quais são os nossos ideais, e quais são os motivos pelos quais os adotamos.

Muitos, ao saberem de nossa posição, não seguirão conosco, não aprovarão nossas atitudes e nossos costumes, mas ninguém poderá falar que fomos falsos, que os seduzimos, que os enganamos.

A insegurança afetiva e o desejo de conquistar a amizade do outro é que nos levam, muitas vezes, a ocultar, diante dele, os nossos defeitos, as nossas diferenças. É verdade que, como diz João XXIII, temos maior proveito quando buscamos, no relacionamento, aquilo que temos de comum com o outro, e não o que temos de diferentes, só podemos saber num diálogo aberto, no qual tenhamos paciência de ouvir o outro, e a coragem para mostrar a ele as nossas divergência, as nossas falhas, incapacidade e limitações.

É possível que o nosso interlocutor seja inseguro e necessite de nossa amizade, então terá tendência natural de fantasiar que pensamos e agimos como ele, pois se visse a realidade poderia temer que suas convicções, não bem estruturadas, fossem abaladas. Ele poderá ter medo da solidão e criar a alucinação de que somos seu anjo da guarda, seu guarda-costas ou eu amigo inseparável.

Nem Cristo conquistou a todos. Muito menos nós o conseguiremos, mas isto não importa. O que é necessário é sermos leais conosco e com o nosso próximo. É ajudá-lo a ver-nos em nossas dimensões humanas, frágeis e delimitadas, assim ele não alimentará falsas expectativas, não exigirá que sejamos iguais às suas fantasias, não exigirá de nós comportamentos divinos e não sofrerá grandes decepções conosco.

Assim agindo, poderemos ter mais um amigo, embora seja completamente diferente de nós, se ele não quiser nossa amizade por sermos diferentes, pelo menos teremos a consciência tranqüila de que fizemos tudo, o que estava a nosso alcance, para não fazê-lo sofrer e não feri-lo.

×